E para onde se atiram os cravos depois da Madrugada?
dança ao sol do meio-dia
o poema como louco
sobressalto ainda
dessa limpa madrugada
o tempo passa
e a liberdade faz-se vício
acessório inútil
vazio e já sem graça
acendem-se finalmente fogueiras na cidade
que o papel é presa fácil
o poema arde
à noite acomodados
mastigamos como gatos gordos
os restos do fim da festa
fica a sensação amarga e triste
que acordámos tarde
uma dúvida resiste
e para onde se atiram os cravos depois da madrugada?
Eduardo Leal (Abrantes, 1962, do Porto a Lamego e mais além).
É militante convicto da bandeira do otimismo. Apesar de ler as notícias, porque não duvida da força das palavras, acredita que é possível construir um mundo melhor. Desconfia do destino. Por isso gosta de se fazer à estrada sem a certeza do caminho. Prefere o acaso, para chegar às estórias partilhadas, boas conversas, gargalhadas, alguns poemas. Os poemas chegam quando calha, à hora certa. Importa ter a mesa sempre posta.
Eduardo José Valentim dos Santos Leal, nascido a 6 de Maio de 1962 em Abrantes, licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Paralelamente é escritor e editor com diversos livros publicados e responsável por vários projetos coletivos na área da poesia, nomeadamente a “Antologia da Cave – 25 anos de Poesia no Pinguim Café”, coletânea que reúne o trabalho de 56 autores, bem como da micro-coleção de poesia “nem só de gin vive o Pinguim”, com tiragem semanal e envolvendo a colaboração de vários poetas com especial ligação ao Pinguim Café. No âmbito da editora Texto Sentido, da qual é colaborador, é o responsável pela coleção “Quase Dito”.
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