Edições
Edições, livros e publicações da Apuro
MODO DE USAR
Leitor, leitora, estás perante um livro que é feito de seis livros, ou seis livros que constituem um só. Esteve quase para ser (vou cometer uma inconfidência) - em vez de um conjunto de folhas reunidas, cosidas ou coladas - uma caixa, ou envelope, lugar onde viveriam cadernos soltos, esperando a tua montagem. Por fim, estabilizou nesta forma, fisicamente menos incerta. Porém, o que nasce sob a lei do jogo permanece sempre marcado pelo risco: e por isso podes ler, leitor, leitora, estas páginas fora da ordem, os cadernos na liberdade do acaso ou do desejo.
A Folha Clara é um livro, são seis cadernos, são incontáveis construções possíveis. Seis é o número de faces de um dado de jogar, seis são os destinos possíveis de cada lance: a virtualidade de um plural, a unidade de um dado que de repente pára de rolar e diz um algarismo definitivo. Mas o dado recomeça, recomeça outra vez: um lançar de dados nunca abolirá o acaso, e cada pensamento emite um lance de dados, afirmou Mallarmé, no fim do século XIX. Desde então, tornou-se claro o que, em rigor, já era a lei de toda a escrita: jogo, acaso, montagem, obra aberta - para citar também Umberto Eco. Ou folha clara, pode dizer agora Glória Alhinho.
Um livro que é seis livros, e vice-versa, e vice-versa outra vez, exige um prefácio à sua própria imagem: seis breves prefácios, que também podem ser lidos fora da ordem, e dentro do desejo. Leitor, leitora, lê estes seis breves textos de abertura na sequência que preferires: lança o dado, joga, inventa, arrisca.
Pedro Eiras
(...) Em meio a uma pandemia, e após meses de aflição (quantos degraus tem a precariedade?) a Público Reservado, decidiu que iria criar uma open-call para dramaturgos.
Esta bolsa nasceu da vontade de apoiar uma área que não foi contemplada por nenhum apoio directo e pela vontade de valorizar o ofício da escrita dramática.
Recebemos dezenas de textos, plurais no seu entendimento do fazer teatral.
Em conjunto com a Apuro, reforçamos a bolsa e a Apuro decidiu publicar os mesmos, tornando assim os textos disponíveis e permeáveis a outros olhares.
De que falam estes textos? (...)
In Prefácio de Renata Portas
dança ao sol do meio-dia
o poema como louco
sobressalto ainda
dessa limpa madrugada
o tempo passa
e a liberdade faz-se vício
acessório inútil
vazio e já sem graça
acendem-se finalmente fogueiras na cidade
que o papel é presa fácil
o poema arde
à noite acomodados
mastigamos como gatos gordos
os restos do fim da festa
fica a sensação amarga e triste
que acordámos tarde
uma dúvida resiste
e para onde se atiram os cravos depois da madrugada?
Texto de Sérgio Almeida para o Jornal de Notícias:
São mais de 20 anos a proclamar a urgência de uma revolução, não só política e social, mas sobretudo da esfera do indivíduo, esse território último, afinal, onde tudo germina.
Desde os primeiros livros até ao presente, António Pedro Ribeiro prossegue uma sanha poética feita da recusa da aceitação das normas vigentes que tem como objetivo maior a construção de um Homem novo.
Aos que lhe colam o rótulo de utópico, como se de um insulto se tratasse, limita-se a apontar para a História, ou não tivessem sido aqueles que propuseram caminhos alternativos aos da maioria os grandes responsáveis pelas mudanças verificadas através dos tempos.
Na esteira das suas grandes influências de hoje e sempre, de Nietzsche a Che Guevara, de Jim Morrison a Baudelaire, procura questionar os supostos grandes valores. “Quantos vales hoje no mercado ? / Vendeste-te bem na praça? / Amor, felicidade, liberdade / isso já não interessa / estás aqui para competir / para agradar ao patrão / ao deus que te controla / / nada de fantasias ou utopias / sê eficaz / obedece / não questiones / submete-te”, escreve no poema “Mercado”.
Apesar da coerência inatacável que percorre estes escritos, o tempo não passou à margem. Como o próprio confessa em “Um homem de contrastes”, lembrando que “o poeta dos cafés e dos bares” deu agora lugar a um ser mais contemplativo, mesmo que prossiga com “as viagens mentais” proporcionadas pela escrita e pela poesia.
“De metralhadora na mão”, o vocalista do grupo Sereias junta-se ao coro daqueles que, em seu entender, têm verdadeiro interesse: “os loucos, os palhaços, as putas”, nos antípodas do que chama de “vendilhões”, como “os consumistas, os moralistas e os patrões”.
Nem só de apelos à revolta é feita esta escrita, na qual também encontramos uma dimensão íntima onde cabem odes frequentes às mulheres, eterna inspiração de muitos dos seus poemas.
Súmula temática e ideológica do que foi escrevendo ao longo dos anos, “Mulheres, visões e revoltas” distingue-se da maioria do que já publicou pela depuração crescente. Essa busca do mínimo encontra apenas exceção em “O grande maldito”, porventura o pico criativo do livro, em que Ribeiro lança um longo olhar retrospetivo sobre uma existência feita “para celebrar / para gritar / para ir até ao fim”.
Por falar em poetas que se redescobrem… acabou de ser lançada a obra poética completa de José Augusto Aires Torres, um poeta inquieto, que toda a vida lutou em nome da liberdade e dos direitos democráticos… Um ativista e revolucionário sonhador de mundos em mudança. As suas obras completas ajudam a chegar agora ao grande público deste século os livros de poesia que receberam elogiosas críticas na altura da sua edição: Inquietação (1925) e Anda às Voltas o Mundo (1946). Um homem é maior ou do tamanho da sua angústia? : “Às vezes passo horas e horas la na serra/a olhar…/tantos caminhos, tantos, pela terra!/Tantas asas no céu! Tantas velas no mar!
O quinto livro de poesia de João Habitualmente a quem encontramos habitualmente noutros registos como crónicas, microficção e conto. Logo o primeiro poema é uma provocação anti literária: Não me ofereças poemas/não quero palavras/prefiro a mudez. No último poema, o ambiente é mais trágico: “ao teu primeiro bocejo/o poema estremece e cai/para o lado de dentro do fim da tarde. Entre o primeiro e o último há espaço para erotismo, humor, erudição e…
De uma recente parceria entre a PSIJUS – Associação para a Intervenção Jurispsicológica e a (AIPJ-E) - Asociación Iberomaericana de Psicologia Jurídica – Espanha, resultou esta obra em castelhano e português que tem coordenação de Carlos Alberto Poiares e José António Echauri Tijeras. Colaboraram, ainda, nesta edição, Leonardo Rodrigues Cely, Maria Isabel Salinas Chaud, Elias Escaff Silva, Javier Urra, Rita Domingos e Maria Cunha Louro. O que permanece na diversidade de todos os ensaios coligidos nesta edição é uma reflexão sistemática sobre os grandes desafios que se colocam à psicologia forense nesta primeira metade de século XXI como a que resulta dos direitos humanos e da perspetiva de género, da violência filio-parental, da violência intrafamiliar, da violência conjugal e doméstica. Perpassa na obra a ideia que se apenas o aspeto punitivo das leis é insuficiente e de que é efetivamente necessário prevenir e esta é uma chamada de atenção para estas problemáticas sociais abordadas ao longo do livro.
"Romper", escrito a várias mãos, inclui o texto colectivo do espectáculo "Irromper" financiado pela DGArtes e uma série de artigos científicos e testemunhais sobre a importância das artes e, do teatro em particular, como experiências libertadoras e construtivas no trabalho com cidadãos portadores de doença mental e como processos de combate ao estigma.
Luís Ferreira é mais uma voz singular descoberta pela Apuro no subterrâneo do Pinguim Café onde desde 1987 acontecem as segundas-feiras de poesia. Provocador, tem no quotidiano um elemento central na sua escrita à qual imprime um ritmo e cadência disposta à oralidade. Lê-lo é como se entrássemos num comboio que segue a várias velocidades pautadas pela sua percussão própria. Luís Ferreira tem já uma considerável obra publicada em circuitos de edição underground. “O Gajo, o Bar e o Serviço” é um novo livro que a Apuro tem o prazer de editar para que a sua voz chegue a mais leitores.
"O Lobo Sou Eu" é uma estória sobre um salto no desconhecido - e o próximo dia é sempre um pouco de desconhecido - uma aventura daquelas em que as coisas não correm exatamente como pensávamos que deveriam correr, mas que no fim nos servem de boa lição de vida e ajudam a compreender quem temos ao nosso lado.
Boaventura de Sousa Santos, reconhecido internacionalmente como um dos maiores intelectuais contemporâneos e referência no que se refere a globalização, cultura e política, incorpora neste livro um jovem rapper nascido no Barreiro que transforma em energia poética e musical, a tragédia familiar e a raiva incontida. Uma voz que representa em ritmo rap todos os povos oprimidos do hemisfério sul.
"2084: Reflexos e Reflexões Sobre uma Distopia" inclui o texto integral, com fotografias de ensaios, da peça "2084: O Triunfo Sobre os Porcos" de Castro Guedes. Faz-se acompanhar de importantes contributos (reflexos e reflexões sobre a distopia e não necessariamente sobre o texto teatral) de Boaventura de Sousa Santos (sociólogo e historiador). Jorge Bateira (economista). Jorge Cunha (teólogo). Luisa Branco Vicente (psiquiatra e psicodramatista de raiz psicanílita) e Nuno Pacheco (jornalista). O final da obra é ilustrada com 6 desenhos inéditos e propositadamente desenhados com o mesmo pressuposto por Mestre Henrique Silva.
(...) A sabedoria é tudo quanto faz de nós mais pessoa e não apenas pessoas de mais ciência. Este compromisso da ciência com a vida é mais central ainda quando essa ciência é a Psicologia, pois esta deu-se a si própria a tarefa de estudar os indivíduos no seu comportamento e no seu psiquismo. É, portanto, um conhecimento que é conhecimento de si. É este outro traço de união entre os cinco textos do livro: são todos escritos por psicólogos, e por psicólogos que não estão acomodados ao que estudam e praticam - e por isso lhes chamámos textos inquietos» (...) O que visa este livro é suscitar o prazer da discussão em torno de temas centrais para a identidade dos psicólogos, mas centrais também para todas as outras pessoas porque o que os psicólogos fazem é trabalhar com as problemáticas onde se desenrola o essencial da experiência humana.
Os direitos de autor e a receta obtida com este livro, que junta jornalistas, fotojornalistas, escritores, fotógrafos, designers, ilustradores, outros artistas e pessoas com experiencia de rua, irão para um fundo gerido por "As Vores do Silêncio/Les Voix du Silence", plataforma do Núcleo de Planeamento e Intervenção nos Sem-Abrigo do Porto. A verba será usada para completar custos associados a necessidades decorrentes do processo de reinserção de pessoas em situação de sem abrigo, como tratamentos dentários, próteses dentárias, óculos, cauções para acesso a aluguer de casa e equipamento doméstico.
No mundo contemporâneo globalizado, a ideia de liberdade ganha contornos cada vez mais contraditórios. Em teoria, a liberdade é um direito democrático que incondicionalmente assiste a cada ser humano, mas na prática, o seu exercício está condicionado por inúmeros factores. A possibilidade de liberdade depende, evidentemente, do poder que assiste a quem pretender exercê-la e, como sabemos, o factor mais diferenciador da distribuição de poder nos dias de hoje é o factor económico. Num mundo onde a aceitação global das desigualdades económicas organiza sub-repticiamente hierarquias de poder cada vez mais rígidas e impositivas, o que dizer do exercício da liberdade? Partindo de propostas conceptuais dos filósofos Gilbert Simondon e Bernard Stiegler este é o texto do espectáculo (des)individuação levado a cena pelo Teatro do Frio, num exercício de confronto com estas perguntas sob a forma de música, palavras e corpos.
Poesia inédita - Obra póstuma de Eduardo Sardinha (1970-2014)
Se a morte do grande poeta chileno, Pablo Neruda, recordada mais de quarenta anos depois, foi natural ou provocada, é algo que talvez se venha saber após serem esclarecidos os resultados da exumação dos seus restos mortais. Mas é um feito histórico que, uma mão cheia de dias após o golpe militar, o seu funeral tenha concentrado, apesar de toda a repressão, uma enorme multidão determinada, transformando esse ato de amor e estima pelo cantor da cultura latino americana na única manifestação massiva desses tempos contra o regime. Trad. António Sabler.
"O José Eduardo mostra aqui a rara mas inestimável capacidade comum aos que atravessam competentemente fronteiras, sejam contrabandistas ou cosmopolitas: o domínio de uma literatura vasta nos dois campos do saber, a competência nos usos das ferramentas que lhe são típicas, e, alas!, a fluência entre-culturas que permite a construção de algo de verdadeiramente novo. Esse novo é um discurso fundado na escuta atenta das línguas originais, no respeito pelas suas gramáticas e especificidades fundadoras e na extração da sua essência, de forma a produzir uma genuina comunicação (e não apas uma tradução) entre arte e ciência, entre mente e corpo, entre ação e representação. (...) Nem sempre um doutoramento cumpre, de modo criativamente resolutivo, essa tensão dialéctica entre tradição e inovação: mas este é um exemplo notável de como as duas dimensões coexistem na sua mútua indispensabilidade." in Prefácio
(…) Nós como Campos, hoje somos leitores de Pessoa e parece que imaginariamente sempre estamos falando com ele e tentando reorganizar e pôr em diálogo todos os «raciocínios, temas, projectos, fragmentos de coisas que não sei o que são, cartas que não sei como começam ou acabam «, relâmpagos de críticas, murmúrios de metafísicas» que nos deixou nas suas arcas (...) Do Prefácio, por Jerónimo Pizarro
Primeiro livro de poesia de Eduardo Quina.
Laertes regressa para o ajuste de contas com Hamlet. Inicia a ofensiva com um discurso sarcástico e violento, para inflamar o seu desejo de vingança e para desmascarar o epíteto de herói que o mundo atribui ao seu opositor. O Sangue há-de ferver-lhes nas veias antes de ser derramado pela misericórdia das espadas!
A partir da observação do quadro O Beijo de Gustav Klimt, obra emblemática do Jugendstil de Viena, e das diferentes interpretações que um casal faz das suas figuras entrelaçadas, inicia-se um processo de revelação dos próprios fundamentos da relação entre os dois, que é posta em causa através do questionamento dos motivos que levam duas pessoas a aproximarem-se. O Beijo estreou no Pinguim Café no dia 1 de Novembro de 2013, com encenação de Rui Spranger, interpretação de Isabel Queirós, Rui Spranger e participações especiais de Hugo Valter Moutinho e António Manuel Rodrigues, numa coprodução Apuro Teatro em parceria com o Pinguim Café.
Normal estreou a 20 de Abril de 2011, no bar Pinguim Café (Porto), com encenação e interpretação de Rui Spranger e colaboração artística de Paulinho Oliveira, Rui Azevedo, Rui Pena e Viriato Morais.
Primeiro livro de poesia de Inês Lagartinho. A poesia como superação, como forma de vencer obstáculos e afirmar a nossa presença no mundo.
Trata-se de uma obra, simultaneamente comemorativa e evocativa, que reúne textos de 56 autores, bem como fotografias seleccionadas e alguns documentos publicados na Imprensa sobre as noites de Poesia do Pinguim Café. A edição tem a chancela da APURO, associação cultural e filantrópica sediada no Porto, e a colaboração do próprio Pinguim Café. O mote para esta compilação são as já míticas Segundas de Poesia, que há 25 anos, a partir da cave deste espaço nocturno, têm marcado a vanguarda cultural e artística da cidade do Porto. Cada um dos autores agora publicados, maioritariamente com inéditos, contribuiu, em algum momento, para a história destas noites, ora como poeta ora como dizedor.
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